Quando o Cativo é Levado em Cativeiro

16/11/2011 21:43

 

QUANDO O CATIVO É LEVADO EM CATIVEIRO (Sl. 137.1)

Natanael V. Ferreira

 

 

            Este Salmo evoca a lembrança da queda de Jerusalém em 587 e do exílio na Babilônia. Era de costume os judeus estarem às margens de certos rios para momentos de festa ou de oração (At. 16.13). Os rios mencionados neste Salmo 137.1 tratavam-se do rio Tigre e o Eufrates com seus afluentes e canais.

            Geralmente quando se é tirado da sua própria terra e levado para o terreno inimigo logo vem à memória as coisas passadas. A saudade é grande e difícil é não chorar.

  • Verso 1 – Nota-se que onde os judeus estavam acostumados a orar ou festejar agora eles estavam assentados a chorar. Situações opostas como estas nós enfrentamos em algumas etapas da vida. Há momentos em que estamos em Sião, confiantes no Senhor, festejando e usufruindo das ricas bênçãos no banquete do Pai Celeste. E desta forma mencionamos – “Os que confiam no Senhor serão como monte de Sião que não se abala, mas permanece para sempre (Sl. 125.1)”. Em outros momentos estamos na Babilônia, e em lágrimas estamos dizendo – “O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã (Sl. 30.5)”. Ou ainda dizemos – “Tem misericórdia de mim, Senhor, porque sou fraco; sara-me, Senhor, porque os meus ossos estão perturbados (Sl. 6.2)”.
  • Verso 2 – Este verso denota uma situação de declínio. Às margens dos rios havia algumas árvores e arbustos conhecidos como salgueiros (este é um nome genérico dado a certos tipos de plantas que crescem em terrenos úmidos ou à beira dos rios, e algumas delas tem importância econômica como fonte de madeira). Foi exatamente nesses tipos de plantas que as harpas foram penduradas. Quando se está em crise no território inimigo a intenção é de deixar para trás aquilo que nos pertence, pois não enxergamos valor algum nos bens que temos diante das calamidades. A ausência das harpas indica falta de harmonia, louvor, alegria, estimulação. Quando deixamos estas coisas e outras semelhantes em meio às provações, é como profanar o sagrado que está sob nossa responsabilidade. É deitar aos porcos (Babilônia) as nossas pérolas (harpas). E agora os cativos estavam a desvalorizar as riquezas que outrora consideravam de grande estima. No livro de Josué há uma situação oposta ao que aconteceu neste Salmo. Os sacerdotes não penduraram suas buzinas de chifres de carneiros para se lamentar, pois Jericó estava rigorosamente fechada, tanto que ninguém entrava e ninguém saia. A ordem foi para tocar as buzinas por tempo prolongado e ao mesmo tempo o povo gritaria com grande brado e as muralhas cairiam por terra, e assim aconteceu (Js. 6.1-21).                

        Na Babilônia (Sl. 137.1-6)

            

Instrumento – Harpa;            

Local – Às margens dos rios;

Situação – Estavam cativos e chorando;

Ponto Negativo – Se consideravam como pessoas destruídas, vencidas;

 

        Em Jericó (Js. 6.1-21)

 

Instrumento – Buzinas de chifres de carneiros;

           Local – Próximo às muralhas de Jericó;

Situação – Marcharam ao redor da cidade, tocaram as buzinas, e deram um brado;

Ponto Positivo – Tomaram a cidade, mataram os inimigos e os animais ao fio da espada, e tomaram o ouro, a prata, e os vasos de metal e de ferro.

  • Verso 3 – Neste verso há pelo menos dois pontos a serem avaliados:
    1. Zombaria – Os babilônios estariam zombando da mesma forma que Golias zombou a Israel e a Davi? (1 Sm. 17.8,42,43). Estariam os babilônios pedindo uma canção somente para constrangê-los, pois estavam levando-os como escravos?
    2. Necessidade espiritual – A Bíblia de Jerusalém nos trás a seguinte tradução: “Lá, os que nos exilaram pediam canções, nossos raptores queriam alegria... (v. 3)”. Estariam os babilônios à procura de uma alegria mais que urgente? Como um povo pagão as aflições e tristezas se apoderavam de suas vidas, pois adoravam deuses pagãos que não lhes podia dar a assistência espiritual necessária. Se eram conhecedores da história de Israel bem sabiam que este era um povo que usufruiu das bem-aventuranças do Deus de Abraão.
  • Verso 4 – O pessimista só avista os pontos negativos da situação. Um exemplo disto está no momento em que os doze espias são enviados para analisar Canaã (Nm. 13.1-33). Estes foram os doze espias:
    1. Da tribo de Rúben – Samua (heb. Fama)
    2. Da tribo de Simeão – Safate (heb. Ele julgou)
    3. Da tribo de Judá – Calebe
    4. Da tribo de Issacar – Jigeal (heb. Ele remirá)
    5. Da tribo de Efraim – Oséias (heb. Salvação ao salvo)
    6. Da tribo de Benjamim – Palti (heb. Libertado por Deus)
    7. Da tribo de Zebulom – Gadiel (heb. Deus é minha fortuna; Deus afortunou)
    8. Da tribo de José, pela tribo de Manasses – Gadi (heb. Afortunado)
    9. Da tribo de Dã – Amiel (heb. Povo de Deus; Deus é fiel aliado)
    10. Da tribo de Aser – Setur (heb. Escondido)
    11. Da tribo de Naftali – Nabi (heb. Escondido)
    12. Da tribo de Gade – Geuel (heb. Majestade de Deus)

O otimista mesmo que esteja no deserto ele avista pela fé o oásis de Deus. O povo de Israel não enxergou motivos para entoar louvores à Deus. Nota-se que o verso 4 é semelhante aos dias atuais onde após um longo dia de trabalho chegamos em nosso lar e não temos motivo para ir à Casa do Senhor. Os cativos após um dia de enfado e canseira se reuniam, mas ao se lembrar de Sião se comoviam fortemente e não conseguiam entoar o cântico ao Senhor.

  • Verso 5 e 6 – Eis a grande responsabilidade de um músico preferindo que sua destra perdesse a habilidade em executar a harpa do que se esquecer de Jerusalém. Jerusalém é o lugar onde festejamos ao Senhor, lugar onde Ele fala conosco. Pode ser em nossa casa, ou na Igreja. De que vale as habilidades espirituais se não temos a Casa do Senhor e o nosso lar como refúgio onde o Senhor fala conosco? O salmista preferiu ficar mudo a esquecer Jerusalém como sua maior alegria. O salmista não se equivocou quando disse – “Alegrei-me quando me disseram: Vamos à Casa do Senhor (Sl. 122.1)”.